Paradoxal, Corinthians faz 98 anos sem saber o que comemorar

01/09/2008 18:18

Quatorze vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, líder isolado com seis pontos de vantagem sobre o segundo colocado e ainda melhor ataque e defesa. Esse seria o presente dos sonhos de qualquer corintiano pelos 98 anos do clube, se não fosse por um problema. Essa campanha está sendo realizada na Série B do Campeonato Brasileiro. Dessa forma, em um turbilhão de sentimentos, o torcedor ainda tem motivos para celebrar, mas também não vê a hora de superar essa temporada.

Ao longo da sua história, o rebaixamento para a Série B é apontada como uma das piores passagens do clube ao longo dos anos. Tanto que, mesmo que o Corinthians fique com o título da competição, muitos torcedores defendem a idéia de simplesmente ignorá-lo.

Esse paradigma chegou também aos jogadores. Desde o começo da Série B, o discurso do elenco sempre foi em torno do "principal objetivo" do time, que era uma vaga à elite. Porém, com a facilidade com que a equipe vem trilhando seu caminho pela Segundona, o desejo em também ficar com a taça vem se tornando crescente.

Além disso, assim como tem acontecido nos últimos anos com grandes times do futebol nacional, a queda para a Segundona e, consequentemente, uma boa campanha na Série B, fortaleceram os laços entre o clube e o seu próprio torcedor, relacionamento que correu riscos de ruir depois do péssimo desempenho no ano passado.

Uma prova foi o projeto "Eu Nunca Vou Te Abandonar", campanha lançada após a queda para a Série B. Apesar de ser uma ação despretensiosa, como já afirmou diversas vezes o vice-presidente Luis Paulo Rosenberg, esse movimento fez com que os corintianos ostentassem com orgulho a sua paixão e, em contrapartida, despertou o clube para uma realidade, até então pouco explorada: a do marketing.

Dessa forma, em baixa dentro de campo, mas ciente da sua capacidade comercial, o Corinthians fechou o maior patrocínio da história do futebol brasileiro, estruturou um contrato inédito de transmissão com a maior emissora de TV do país, gerando uma grande receita, ganhou parceiros como um banco e uma gravadora e passou a usar sua marca em empreitadas que vão do automobilismo a uma agência de viagem.

No campo da política, o Corinthians também prosperou. Após a turbulenta parceria com o fundo de investimentos MSI e a saída de Alberto Dualib do poder, a nova diretoria, encabeçada por Andres Sanchez, tinha como meta reerguer a auto-estima do clube e, principalmente, buscar alternativas para sanar o rombo de quase R$ 100 milhões deixado pela última administração.

Apesar de as dívidas continuarem praticamente no mesmo patamar, o Corinthians já pode sonhar com um horizonte mais próspero. Às vésperas do seu aniversário, o clube aprovou a mudança de seu Estatuto. Entre outras alterações, as principais são a limitação de três anos para os mandatos presidenciais (sem a possibilidade de reeleição) e a escolha do mandatário sendo feita diretamente pelos sócios.

"Essa decisão foi maravilhosa, estou emocionado e otimista com isso. Vejo o Corinthians com outros olhos. Temos um futuro maravilhoso na parte administrativa. Não temos medo nenhum de afirmar que esse é o estatuto mais moderno e democrático de clubes do Brasil", discursou Mario Gobbi Filho, vice-presidente de futebol.

Esse espírito de vanguarda defendida pelo dirigente contrasta com heranças pouco felizes para o clube. Uma delas é a ausência de um grande estádio para mandar seus jogos, principalmente após mais uma proposta ter sido descartada depois de uma novela com muitos desencontros.

Enquanto isso, o clube se agarra à matemática para enterrar, o quanto antes, a sua passagem pela Série B. Pelas contas do próprio técnico alvinegro, mais cinco vitórias devem ser suficientes para dar a tão sonhada vaga à elite do futebol. Apesar do "atraso" de 23 dias em relação ao aniversário, este presente deve ser o mais comemorado dos últimos anos.

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